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Um grito de dentro do verde. A monotonia da cor, em variações de capim, suspirava debaixo dos silvos de vento Por cima, só o azul metálico do céu. E, de novo, um grito a fazer estremecer o chão, com a dor toda que têm mil feridas em pele qu
eimada, parecia não ir acabar. Assustaram-se os mutuns e os socós, que sairam em voo picado. Escureceu o céu, para dar inicio ao aguaceiro que demoraria até à noite. Um lamento de dentro do verde anunciou Abaé.O nome deu-lhe sua mãe, depois de sacudir o sangue das pernas, para que todos soubessem que era mais um.
Só conseguiria chegar à aldeia no dia seguinte por isso tinha de começar a andar agora. Podia caminhar o que quisesse, no tempo que fosse preciso – aquela terra fora considerada, em juizo e tribunal, a sua casa e não teria caminhar outro chão diferente daquele: o tekoha guasu, o chão da sua aldeia.
Saiu do capim e faltava-lhe ainda uma noite e algumas horas da manhã seguinte para chegar. Abaé escondia-se, de cara no peito da mãe, dormente.
- Está feito? - o seu irmão tinha vindo ao seu encontro
- Está. Podemos voltar agora.
Caminhavam agora os dois, em silêncio, interrompido a espaços pela criança e as absolutas necessidades de comer, dar de comer e dormir.
- Morreu Nadi – o seu irmão despejou a noticia com quem tosse um resto de comida da boca. Quase parou quando ouviu a noticia: a mãe de tantos, a sua mãe, morreu.
- Quando foi isso?
- Ontem, depois da lua.
Continuavam a andar, lado a lado, não podiam parar agora. Araci, segurou com a mesma força de antes Abaé contra o peito. Continuou a caminhar sem deixar de olhar a risca que dividia a terra do céu, deixou que saissem as lágrimas e, acho que ainda hoje chora um pouco quando olha o fio do horizonte.






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