O cheiro das flores vem de
fora e enche o quarto. Não consigo dormir. Não consegui adormecer
desde que saiste ontem, a meio da noite. Viro a cara para baixo e
respiro o cheiro da almofada – o teu cheiro. O aroma, intenso e
acre, da tua pele quente que segurei com as mãos e o corpo todo. Sem
tentar, vejo de novo o contorno do teu corpo, aprendido ontem, em
cada pequena ruga, com a minha boca.
E hoje faltas-me.
O sol voltou para dentro
do quarto e a cama revela a noite de ontem. Os lençóis ficaram como
os deixamos – revoltados e soltos. E eu, meu amor, estou nua como
me deixaste – a sentir-te ainda dentro de mim, num eco de nós.
Não consigo mexer-me.
Não quero mexer-me. Quero fechar os olhos e voltar a sentir o
caminho das tuas mãos através do meu corpo. Ouço ainda o que me
disseste sussurrado no ouvido enquanto me fechavas nos teus braços.
Fecho os olhos e toco-me. Faço-o de novo e trago-te, de ontem, para
os lençóis de hoje.
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