Aquele nada tinha-a esgotado. Dava voltas sobre si e a cama
mostrava-se pequena só para ela - talvez porque, mesmo sem estar, ele continuasse
a ocupar demasiado espaço. O chão parecia-lhe melhor agora. Mais estável, mais
honesto. Na cama esperava que corpos se misturassem e dessem mais de si do que
a vergonha de se olharem vermelhos, despenteados, com a respiração apressada
que têm aqueles que só querem que tudo demore.
No chão não.
Desceu ou caiu sem sentir.
No chão passavam pés, sapatos, dedos que se esmigalhavam uns aos
outros para irem a qualquer lado. Ela não ia a lado nenhum. Estar em Paris ou
noutra cidade do mundo era igual. O amor não vivia ali. Nela. E o chão estava
cada vez mais frio. Ou ela.
Agora sabia que nunca devia ter perguntado nada enquanto ele lhe
desabotoava a camisa e voltava a abotoar, abrindo a boca perto da sua orelha
sem chegar a dizer uma palavra que fosse. Só a demorar tudo,
até o silêncio.
E ela achava que o percebia.
Mas mesmo assim perguntou.
E depois a pressa a abotoar a camisa dele,
já não a dela,
já não devagar.
Agora sabia que não era assim tão importante saber se ele estava
realmente apaixonado por ela. Agarrou na sua camisa e começou a abotoar e
desabotoar vezes sem conta, mudando a velocidade para perceber a diferença de
querer ir ou ficar.
Enrolou-se sobre si e entre os joelhos segurou um
"não"
que durante anos ia manter as suas pernas
juntas,
no chão frio.
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