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Tema: Uma viagem


Viajar até ao fim do mundo... Na minha memória sempre registei Ushuaia como muito perto de viver a sensação de ir até ao fim do mundo...tão longe e tão só, lá em baixo, onde já não há ninguém...Dá-me uma perspectiva,uma ideia disso.Finisterra...quase se podia chamar assim
Parti de Buenos Aires, era inevitável. Cidade europeia, meia italiana, cheia de cores e de musicalidade: o abraço numa milonga para despedida e inspiração.
- A camionete parte daqui ?
- No lo entiendo...disse o viajante de mochila às costas.
-The bus for Ushuaia?
Agora percebeu...Yes, respondeu, mas num tom que não era inglês.
Bem há mais alguém..
Chega mais um casal, mas sem mochilas, devem ser argentinos, bagagem de sacos diversos..
O tempo estava cinzento, escuro ao longe. Iriamos ter vários dias de
percurso: levava alguna mantimentos, agasalho e água, o imprescindível.
O ruido do motor era variável, provocava-me uma inquietação intermitente: quando eu deixava de estar tão fascinada pelo sem fim da paisagem em todas as direcções e o meu espírito entrava de novo na camionete e voltava a ouvir aquele som roufenho. A chuva começou a cair com uma violência crescente mas a camionete com o seu ronco esquisito parecia não se ralar com isso e o motorista esse então assobiava de vez em quando... Nisto aparece à nossa frente um jeep parado na berma : empanado! Os ocupantes, que nem uns pintos, tinham o capot aberto e estavam com um ar preocupado. Nestas terras do fim do mundo não se pode passar sem falar: o motorsta interroga, -Que passa?..-No lo sé...
Salta fora: água,água, encharca logo, já são três a analisar...
SOS, cabo atado e segue o jeep atrelado à camionete que ronca e resfolega, mas é como um rinoceronte: forte e feio e sempre andando.
Os passageiros do jeep passaram para a camionete, arrastava-se o peso iamos mais devagar.

Passaram-se horas, e dias e noites, sempre o horizonte longe e a estrada sem fim, nunca fiz uma viagem tão desligada de tudo...Através da Sibéria havia de vez em quando uma casa, mesmo de madeira apodrecida, ou povoados pequenos a quebrar a pouca imaginação da paisagem. Aqui é muito mais difícil encontrar gente, então na última parte da viagem.
Quando chego ao fim, corpo bem amassado a desejar um chão qualquer onde estender o saco cama, embora haja casas e se fala uma lingua que até se entende, pensei: quanto me faltará para chegar mesmo ao fim do mundo? .

MJ Lobo

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