Paris, 27 de Março de 1924
Encontrei-te numa manhã de chuva, no Panteão de Paris,
enquanto me perdia nas explicações do guia.
- Le pendule de Foucault est une expérience....
De cabelo apanhado, óculos pretos de massa e uma écharpe a
estrangular-te, só podias esconder um mar de palavras.
Depois da visita, convidei-te por gestos para ir ao café.
Enquanto bebíamos chocolate quente, éramos só silêncio, tu em francês e eu em
português, cada uma concentrada na sua caneca. Mas eu estava em ti.
Quando ficaste com um pedaço de nata no canto da boca,
limpei-o com o polegar e provei-o. Sabias a meia gota de chuva e eu queria
provar o resto. Queria desenrolar-te da écharpe, tirar-te os óculos, soltar-te
o cabelo preto que desliza até ao meio das costas. Queria beijar-te na nuca e
sentir os ossos salientes da clavícula, a única respiração rectilínea que existe em
ti. Descer e descobrir o resto da tua geometria, os teus seios, a tua barriga
quente, o teu sexo, as tuas pernas e os teus pés até ficar tonta e tudo voltar
ao início e os teus pés começarem na cabeça e nos olhos castanhos. E, assim, em
círculo, o dia todo. Sempre.
- L'addition s'il vous plait.
0 colheradas:
Enviar um comentário