Querias ou queres? - Uma crónica



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Queria um café, por favor.


Queria? Já não quer?
Não acham que já chega? Quando eu chego ao café e digo “queria um café “ ainda o quero, estou só a ser simpático. Estou a fazer três coisas ao mesmo tempo, poupando o nosso tempo, o meu e o seu.
A primeira, é pedir um café para mim, de modo a que possa receber uma injeção de cafeína que tantas vezes preciso.
A segunda, é fazê-lo de modo simpático, agradável. Queria um café é o mesmo que dizer “queria, assim que lhe for possível, um café”. Em vez de entrar no seu estabelecimento e quase que exigir um café: “quero um café, pá!” - parece que o que devia fazer era entrar aos berros pelos cafés a dentro e exigir ser servido. Não me parece que seja o modo mais certo.
A terceira, é evitar pedir “quero um café!” porque pedir um café é aparentemente mais difícil do que eu antecipei, se eu disser “queria” tenho de levar com a boquinha, e depois tenho de responder com um sorriso e dizer: “quero, tem toda a razão...” e por sua vez o senhor responde com um “aaaah!” do tipo “apanhei-te!”, feliz da vida. E quando esta história acaba já perdemos os dois tempo, na maioria das vezes o senhor esquece-se do que eu pedi e tem de repetir para ter a certeza. “Um cafézinho então, não é?” Eu aceno afirmativamente e se Deus quiser tenho o meu café.
Se eu disser “quero!”, e não lhe deixar apanhar-me, levo com um olhar de pouco amigos e estraga-me o café por inteiro e ainda sou mal servido.
Se isto me acontecesse uma vez por dia, não me incomodava muito, mas eu preciso de muitos cafés por dia, e depois de muitos anos a beber muitos cafés fico cansado de tentar adivinhar a maneira como pedir uma coisa tão simples como um cafézinho. E como fico cansado, preciso de outro, e isto torna-se um ciclo vicioso.
A minha sugestão é que pusessem um cartaz no vidro, ou à entrada, quando digo cartaz refiro-me às folhas de papel de mesa coladas nos quatro cantos com fita cola, que muitas vezes dizem “há caracóis” e depois desenham um caracol ao lado, no caso de alguém não saber o que são caracóis.
Assim, pegavam numa folhita dessas e escreviam “aqui só se serve no presente” ou “aqui só se serve no imperfeito” e assim eu já sabia a maneira como havia de pedir o café.
É natural que as pessoas digam que não têm tempo para nada, se passamos os dias a perder segundos neste tipo de coisas. Imaginemos o que podíamos fazer com os segundos que perdemos a discutir se queremos ou queríamos o quer que seja.
Podemos decidir se o queremos ou não mais uma vez, podemos ler “as gordas” dos jornais, podemos olhar rapidamente para alguma senhora bonita que por ali passe, podemos ver o resultado do jogo, podemos ver se estamos atrasados ou não, podemos ir acendendo o cigarro, etc. e tal.
Podemos, portanto, andar com a vida para a frente.
São estas pequenas coisas que nos custam uma vida, porque uma coisa é ir com calma, outra coisa é perder tempo. E perder tempo já o fazemos à tempo de mais.
Portugal, quer ou queria pagar a dívida, quer ou queria estar na Europa. A Europa, quer ou queria estar mais unida.
Enquanto não puserem um cartaz à entrada, ninguém se vai entender e eu não hei-de saber como pedir o que preciso para mim.

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