Tive de parar para saborear a frase
toda: "são as batatinhas fritas, dois pãezinhos e um suminho";
assim, de rajada. Ao terceiro diminuitivo apaguei-me, ou por outra,
encolhi-me porque devia ter chegado a Lilliput.
Nada daquilo era em miniatura porque
olhei para o saco ostencivamente, mas a senhora referia-se ao seu
conteúdo sem os óculos do Magoo.
Ocorreu-me que seria um expediente para baixar o preço –
perfeitamente aceitável depois de se ver um resumo de um qualquer
noticiário. A lógica deve ser, digo eu, a de que se se diminuir o
tamanho da coisa, a coisa fique tão pequena que diminua também o
peso e o valor. Uma despromoção dos objectos que os torne
corriqueiros e sem importância de maior porque "sou muito
modesto nas minhas compras".
Uma coisa diferente acontece quando
se diz "o coitadinho" – outra pérola em ponto pequeno,
ouvida amiúde. O objectivo não é diminuir, em tamanho, o objecto
alvo da adjectivação, para comprar mais barato. É, paradoxal e
umbilicalmente, aumentar e publicitar (que essas coisas não se dizem
para dentro) a beatitude de quem o diz. Santinhos de pau oco porque
desta observação não sai nada de valor – nem saúde, nem
dinheiro, nem amor de mãe -, apenas um apontar de dedo inconsequente
e até insultuoso, de quem se roga o direito de dizer acerca da vida
que lhe passa ali perto, porventura menos abonada ou feliz que a sua.
E depois passar em frente, sem outro contributo para a caixinha de
esmolas que não seja esse, o adjectivo. Apenas com a consciência
tranquila (?) de que se viu a desgraça, que se sabe que ela existe e
que os outros em redor também sabem que se sabe.
Já o "favorzinho" ou o
"minutinho" são uma espécie de sorrateirice, um lobo com
capa de capuchinho vermelho. Adivinha-se rapidamente o que dali vem:
borlas, porta de cavalo, cunha ou até, ajuda num meio de contornar
devagarinho (lá está, não foge ao tema) os trâmites da coisa. Até
se consegue ver, se olharmos com atenção, os ombros encolhidos e o
pescoço arqueado para baixo, a reter o som do que se pede baixinho.
Das três versões de Lilliput
(haverão outras certamente), todas me dão arrepios nos cabelos da
nuca. Em todas há uma miopia que se recusa a usar óculos.
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