sabes



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Sabes, Lisboa é daqueles que aqui nasceram e que aqui abriram (espreguiçaram?) pela primeira vez os braços (as ruas?) ao sol. Daqueles que aprenderam o que era um cubo na calçada, mesmo antes dos cubos com que as crianças de outras cidades jogam desde cedo; daqueles que descobriram que a electricidade é amarela e leva gente dentro, por caminhos estreitos e certos mas quase nunca a direito; daqueles que nunca se deixaram enganar pelo azul dos lápis de cor porque sempre souberam que ele não é azul de verdade mas sim uma imitação do céu que mais ao fundo, depois da janela, corre no rio que cai no mar. E daqueles que escolheram os rebocadores como o seu barco preferido, ignorando todos os navios, e deram nomes aos navegadores que ainda hoje só não se desequilibram e caem ao Tejo por um triz feito de pedra.
Sabes, Lisboa é daqueles que um dia vão ensinar que tudo isto é assim porque sempre foi, com a razão de uma ciência exacta, com a certeza de quem aprendeu a fazer contas no quadriculado dos azulejos que cobre os prédios e assim poupou muitas folhas de muitos cadernos para fazer aviões, que quase voaram sobre os pombos, e barcos, que quase atravessaram em segurança lagos pequenos de jardins médios com árvores grandes.



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