Não tenho Facebook. Pronto, confessei.
Precisamente, confessei. Porque, hoje, não ter Facebook é um
crime equivalente ao de ter matado a mãe e o pai. E depois o cão. E o gato. Ok, não
é assim tão mau, mas, além de mim, quem mais, em Portugal, não tem perfil no Face?
Eu digo-vos: uns quantos psicopatas – e de certeza que há estudos que provam isto.
O Cavaco Silva tem Face, o quiosque da esquina tem Face, o meu pai tem
Face, os meus sobrinhos com mais de 7 anos têm Face. O que é que isto diz sobre
mim? Que sou a salsicha no cachorro quente tecnológico: de um lado, uma geração
que viu um computador pela primeira vez depois dos 50 anos e que se esforçou por se actualizar;
do outro, os miúdos que praticamente nascem com um IPad na mão e que fazem
deslizar o dedo indicador sobre o ecrã táctil como se a Humanidade nunca
tivesse feito outra coisa.
E
depois estou eu, a autopromovida salsicha: informatizei-me conforme a
necessidade, mas nunca com verdadeira paixão. A minha presença na Internet
limita-se à conta de correio electrónico. Com efeito, criar uma conta gmail foi
praticamente o auge da minha evolução tecnológica. E não chegava bem ir
trocando uns e-mails durante o dia com os amigos? O problema é que há pessoas
que já nem usam correio electrónico. Ainda há pouco tempo, perguntei a um
colega de 19 anos (que ainda haja pessoas de 19 anos que falam comigo é um
milagre) se poderia enviar-me duas ou três fotografias.
–
Ok, dá-me o teu Facebook – foi a resposta instantânea dele. Mais uma vez, como
se a Humanidade nunca tivesse dito outra coisa. Não consigo descrever a sua
expressão de choque quando revelei que não tinha FB.
Mas
não é que eu seja uma completa analfabeta tecnológica: trabalho oito e mais
horas por dia ao computador, com vários programas que tiram do sério nove em
cada dez pessoas, segundo as minhas estatísticas inventadas agora mesmo. Por
isso, posso dizer que a minha aversão ao Facebook supera a inaptidão tecnológica.
Na verdade, não vejo o interesse de partilhar todos os pensamentos e cada uma
das 143 fotografias tiradas ontem na discoteca. Além disso, e se a pessoa
errada descobre onde moro? Ou onde estou a passar férias?
Evidentemente,
há algo de paranóico neste meu medo: ninguém vai descobrir onde moro nem
cortar-me às postas durante as férias. Ainda assim, não quero like, nem share,
nem follow e muito menos comment a fotografia apaixonada do meu ex com a sua
nova namorada.
Mas o mais irritante do
Face nem é o facto de lixar a vida social de quem não o tem. Já me mentalizei que não irei a
este ou aquele jantar por não receber o convite pelo FB. Mas, quando me dizem
que, sem perfil facebookiano, não tenho credibilidade profissional, colocam-me
perante um profundo dilema. Ai... Ter ou não ter Face, eis a questão.
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